A Comissão da Verdade está chegando. A Folha de São Paulo entrevistou na edição de ontem, 5 de fevereiro, o fotógrafo da grotesca farsa do "suicídio". O texto abaixo foi publicado em 2005, no Boletim da Associção Juízes para a Democracia, por ocasião dos 30 anos do assassinato de Vlado.
Há 30 anos,
em 25 de outubro de 1975, Vladimir
Herzog foi torturado até a morte em dependência do II Exército de São Paulo. O
repúdio ao assassinato iniciou a história do desafio aberto à ditadura militar após o AI-5. Os atos de
coragem que se seguiram fazem parte do
processo de luta pela civilização e contra a barbárie no nosso país: a recusa
do rabino Sobel à versão do suicídio, autorizando o sepultamento em cemitério
judeu consagrado; a audácia do Cardeal Arns; a presença silenciosa e resoluta
de 6 mil pessoas no ato ecumênico da Sé; a sentença do juiz Marcio José de
Moraes em 1978 declarando, sob a vigência do AI-5, a ilegalidade da prisão e
afirmando que o jornalista sofrera tortura. Jamais a história da liberdade de opinião,
de expressão e de organização política em nosso meio poderá ser escrita sem a
menção desses atos de coragem.
Neste
marco dos 30 anos do assassinato de Herzog,
homenageamos a sua trajetória
digna de cidadão e de jornalista que fez de seu ofício um modo de lutar,
com palavras e imagens, contra o
obscurantismo e a barbárie que acabou
por vitimá-lo, e que ainda persiste na vida contemporânea. A violência ainda é meio de ação política. Pratica-se ainda o
extermínio de seres humanos com a finalidade de
impor as próprias convicções e interesses. Recusa-se ainda a liberdade
do outro de viver como um ser pleno, sem qualquer tutela. Em porões policiais,
tantos dias são ainda 25 de outubro de
1975.
A
lembrança da morte de Herzog torna-se, assim,
a constatação de que tudo que conduziu a ela faz parte do presente. Deste sombrio presente que brasileiros e cidadãos de boa vontade de todo
o mundo devem transformar, dando sentido
às suas vidas por meio da luta
contra a barbárie, pela esperança, pela paz e pela vida.
Este
número do boletim da Associação Juízes para a Democracia é dedicado a Vlado,
judeu, militante da justiça social,
jornalista e cidadão brasileiro.
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