quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

#PINHEIRINHO - EMPRESÁRIOS E CONSCIÊNCIA SOCIAL: CONTRADIÇÃO EM TERMOS?


   Leonardo Sakamoto conta em seu blog (leia aqui ) uma conversa entreouvida. Sujeito já alto, em um bar da Vila Madalena, se vangloria de ser empresário esperto: não paga Previdência. Sonega.



   Estou acompanhando e ajudando no possível Carmen Sampaio. Moça de classe média, moradora do Jardim América, profissional liberal, praticamente largou tudo desde o dia 22 de janeiro para ajuda humanitária ao povo do Pinheirinho. Vai lá todos os dias ( aqui o blog dela, e aqui o facebook).



   O que Carmen e sua rede pessoal estão conseguindo fazer é extraordinário. Dão o conforto possível a pessoas traumatizadas e brutalizadas pelo que - não tenho dúvida nenhuma - deve ser caracterizado como um pogrom, uma espécie de crime contra a humanidade: o despejo violento em uma madrugada de 6 mil pessoas, com a destruição de tudo o que possuíam, casas, bens, pertences. Crianças privadas de uma hora para outra do mais básico dos direitos humanos, a moradia, pressuposto de todos os demais.



   Ao ler o blog do Sakamoto me ocorreu esta esquisita ideia: e se os grandes empresários, os megaempresários, nem estou dizendo o empresário comum, mas aqueles que temos na ponta da língua, que controlam Bradesco, Pão de Açúcar, Votorantim, Itaú, etc., mexessem um dedo?



   E se os empresários que sonegam, como o esperto do blog do Sakamoto, acordassem amanhã e pensassem: "bem, soneguei uns 200 mil ano passado da Previdência. Quer saber de uma coisa? Vou pegar uns vintão, 10%, e ajudar para que aquelas pessoas reconstruam suas vidas. E acho que vou fazer mais! Vou ligar para o Zezinho, o Joãozinho e o Carlinhos, que sonegam pra burro, e vou tomar uma grana deles para o Pinheirinho. Esse dinheiro não era nosso mesmo".



   Em 2011 o Itaú teve um lucro de 14, 621 bilhões. O Bradesco, 11, 028 bilhões.Quanto disso não vem injustificadamente dos nossos bolsos (e dos bolsos do povo do Pinheirinho, trabalhadores com conta bancária muitos deles)? Não vem daquelas taxas absurdas que cobram por tomar nosso dinheiro? Seria uma ideia extraterrestre imaginar que uma ação social liderada por um desses  conglomerados, bancos,  poderia pôr fim, sem nenhum prejuízo para eles, ao sofrimento de tanta gente?



   Meu pai era comerciante, farmacêutico. Eu, garoto de 12 anos, ia ao banco depositar cheques e dinheiro para ele (outros tempos...).Por ter vivido isso, lembro bem de uma coisa. É um segredo histórico. Pouca gente sabe: naquele tempo os bancos pagavam juros pelo dinheiro que ficava em conta-corrente. Sim, isso mesmo que você leu. EM CONTA-CORRENTE.  Em vez de cobrar, por exemplo,  taxas por talão de cheques, os bancos pagavam para a gente deixar o dinheiro lá. Era um mundo estranho aquele, não? O banco ficava com nosso dinheiro, utilizava nosso dinheiro, cobrava juros por empréstimos feitos com nosso dinheiro, e pagavam alguma coisa pra gente! Admirável mundo antigo...Pois é...o golpe reacionário de 64 mudou tudo isso, e construiu esse país do jeito que ele é hoje. Ainda vamos brigar muito para reconstruir uma fração daquele passado.



   Mas volto ao assunto. Não tem por aí um conceito de "empresa com responsabilidade social"? Lembro de ter visto algo em propagandas. E sempre que vejo penso: por que nao pegar o dinheiro da propaganda e aplicar de uma vez  na ação social? Ou  a finalidade é o marketing de "empresa com responsabilidade social"? Ou a finalidade é ganhar uma imagem simpática junto ao consumidor para acumular mais?



  Srs. Empresários. Admito que possam ter posições conservadoras. Admito que defendam a ideia de que ordens judiciais devem ser cumpridas e pronto. Admito que tenham em grande conta o conceito de "lei e ordem". Não concordo, mas aceito. Só não aceito que o conceito de "lei e ordem" exclua a noção de solidariedade social. Não é difícil entender que não são conceitos excludentes: "ok, eles estavam onde não deviam, mas não precisam ter suas vidas destruídas, vou fazer algo por eles". Nem vou pedir que entendam que  a acumulação que conseguem se origina do esforço de TODA  a sociedade. Daqueles que limpam suas privadas, que pavimentam os caminhos por onde passam seus carrões, que fazem faxina nas escolas de seus filhos, que vendem diretamente sua forças de trabalho a vocês, que arriscam suas vidas subindo em postes para que haja energia elétrica, que escalam suas paredes pendurados em cordas para pintar cores agradáveis, que suam para construir o ar condiconado que torna suas noites calorentas tão confortáveis...a lista seria infindável...



   Por fim, queria dizer algo aos companheiros que possam ter restrições ao "assistencialismo". Essas pessoas não vão receber caridade. Elas tem direito a isso. Fazem parte da sociedade, estão integradas ao ciclo produtivo. Os velhos que estão lá tem uma vida inteira de trabalho que significa uma fração de tudo que temos agora para que a sociedade funcione. As mães que estão lá criam seres humanos que vão se integrar a esse ciclo produtivo. Tudo faz parte de tudo.



   Enfim, é por Justiça. E se não fosse, bastaria ser por compaixão. São dois entes lógicos que nem sempre andam juntos. Quando andam, é impossível não ver. Precisa ser daquele tipo de cego que não vai enxergar mesmo, nunca, para todo o sempre cego.



   

   



  

  

5 comentários:

  1. “Uma 'sociedade justa' é aquela que pensa não ser
    justa o bastante, que questiona a suficiência dos níveis de justiça alcançados,sejam eles quais forem, e considera que a justiça está sempre pelo menos um passo adiante.” Zygmunt Bauman

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  2. Prezado colega Márcio

    Estamos de acordo que, para além de qualquer discussão sobre o acontecimento, hoje há pessoas que sofrem porque não têm atendidas suas necessidades mais básicas.

    Sendo assim, e sendo mesmo o caso de deixar de lado qualquer diferença; de retribuir à sociedade concedendo aos menos favorecidos uma porção do que ela própria nos provê; e de exercitar a solidariedade e a caridade, tomo a liberdade de dar-lhe uma sugestão.

    Empreenda, no âmbito de nossa carreira (ou quem sabe até mesmo no âmbito de outras carreiras de boa posição), uma corrente de doações em prol de Pinheirinho. Utilize seu prestígio para isto. Se os grandes capitalistas têm um dever perante os menos favorecidos, creio que nós, que somos pagos pelo erário, temos tanto quanto.

    Repito: Isto não é provocação, é sugestão. Fosse eu mesmo mais prestigiado tomaria esta atitude. Porém, do alto da minha humilde condição, me comprometo com o que posso: aderir à iniciativa no primeiro instante.

    Um abraço!

    CAIO

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    1. Caio, há um grupo, do qual participo, liderado por Carmen Sampaio, que está prestando ajuda humanitária ao pessoal do Pinheirinho. Na minha página do facebook há várias informações sobre isso, telefones de contato, pedidos de doação, etc. Certamente colegas da PGE já deram sua contribuição por esse caminho. . Deixo o tel da Carmen Sampaio e vou avisá-la de sua ligação: 9620-2079.

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    2. Márcio, já a localizei e a contatei pelo FB.

      Mesmo assim, insisto na sugestão de uma iniciativa DENTRO da nossa carreira. Com algo do tipo, muito mais do que levantar recursos, cria-se um ambiente de reflexão sobre o que se passa e, principalmente, e conscientização sobre a condição do próximo.

      Repito minha premissa: Devemos muito à sociedade, e nada fazemos para retribuí-la (noves fora a execução do nosso trabalho, que não é nada além do que a nossa obrigação).

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  3. Caio, penso que não devemos dispersar esforço. Convoque, como eu estou fazendo pelo facebook, os colegas para o trabalho da Carmen. Abs

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